quarta-feira, 1 de junho de 2016

Processos fundamentais de cognição social: parte 4


Neste artigo, dedicar-me-ei a outro processo de cognição social fundamental: as expectativas. Quando estive a falar sobre as impressões, analisamos o efeito de um primeiro encontro com uma pessoa que não conhecemos. Contudo, não nos ficamos apenas com essa primeira imagem que resulta desse primeiro contacto: criamos expectativas que decorrem das características que apreendemos nesse encontro. A partir de alguns indicadores, prevemos o seu comportamento e as suas atitudes, isto é, desenvolvemos determinadas expectativas.

Podemos definir expectativa como sendo: uma atitude psicoafectiva que, em face de certos indícios e em dadas circunstâncias, leva o indivíduo a efetuar antecipações, relativamente a determinadas ocorrências sociais. Ou seja, expectativas definem-se como modos de categorizar as pessoas através dos indícios e das informações, prevendo o seu comportamento e as suas atitudes. Tal como as impressões, as expectativas também são mútuas, isto é, tal como eu, o outro indivíduo, com quem interagi, desenvolveu expectativas relativamente a mim. Um exemplo muito claro da importância das expectativas na vida social é-nos dado pelas relações duradouras que se estabelecem entre pessoas, como, por exemplo: marido/mulher; pais/filhos; professores/alunos. Ao exercer estas funções, há um conjunto de expectativas mútuas (como o carinho, a felicidade, a entreajuda…) que regulam essas relações. Realizou-se uma experiência, relativamente à relação entre professores e alunos, os psicólogos constataram que as expectativas, as profecias elevadas relativamente a alguns alunos, podem influenciar positivamente o seu rendimento: produzindo-se o que se designa por autorrealização das profecias. Ou seja, o que alguns autores designam por “efeito de Pigmalião” (as consequências que advêm do processo de profecia). Neste sentido, os estudos demonstraram que as expectativas dos professores afetam de forma significativa aquilo que os alunos aprendem.

Em conclusão, sem termos consciência ou intenção, as nossas atitudes e perceções influenciam os comportamentos dos outros, que, por sua vez, influenciam os nossos. Movidos pela intuição, afetados pelas nossas impressões, produzimos expectativas em relação aos outros, que, como um espelho, devolvem impressões e expectativas. É esta permanente interação que torna as relações interpessoais tão complexas e tão fascinantes.

                                                                                                                          Cristina Botelho



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