domingo, 8 de novembro de 2015

O Homem é um ser biocultural


Dizer que o homem é um ser biocultural não é simplesmente justapor estes dois termos, mas mostrar que eles se coproduzem e que desembocam nesta dupla proposição:

  • Todo o ato humano é biocultural (comer, dormir, defecar, acasalar, cantar, dançar, pensar ou meditar);
  • Todo humano o ato humano é, ao mesmo tempo, totalmente biológico e totalmente cultural.


Comecemos pelo primeiro ponto: o homem é um ser totalmente biológico.

Antes de mais é preciso ver que todos os traços propriamente humanos derivam de traços específicos dos primatas ou dos mamíferos que se desenvolvem e se tornam permanentes. Neste sentido, o homem é um superprimata: traços que eram esporádicos ou provisórios no primata - o bipedismo, a utilização de utensílios e mesmo uma certa forma de curiosidade, de inteligência, de consciência de si, tornaram-se sistemáticos no homem.

O mesmo se verifica no domínio da afetividade: o jovem mamífero é um ser ligado à mãe (...) e é nesta forma primitiva de afetividade que radica o amor e a ternura humana. Os sentimentos de fraternidade e de rivalidade que se encontram nos mamíferos desenvolveram-se também na nossa espécie: o homem tornou-se capaz da maior amizade como da maior hostilidade para com o seu semelhante. (...).

Falta mostrar agora que o homem é totalmente cultural. Antes de mais, é preciso recordar que qualquer ato é totalmente culturizado: comer, dormir e mesmo sorrir ou chorar. Sabemos bem, por exemplo, que o sorriso do japonês não é igual à gargalhada do americano! E a coisa mais espantosa aqui é que os atos que são mais biológicos são precisamente os que são os mais culturais: nascer, morrer, casar, (...).

A ideia de uma definição biocultural de homem é fundamental e rica de consequências. O processo biocultural é um processo incessantemente recomeçado que, a cada instante, se refaz a nível dos indivíduos e a nível das sociedades. Eu definiria, por isso, o nó da nova antropologia do seguinte modo: o ser humano é totalmente humano porque é, ao mesmo tempo, plena e totalmente vivo e plena e totalmente cultural.

Edgar Morin, A Unidade do Homem

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